Aristóteles, na Retórica, ocupa-se dos “Pathê”, termo habitualmente traduzido do grego por “paixões”, “afeções” ou “emoções”, considerados estados de espírito humano e causas que fazem alterar os seres humanos e introduzem alterações nos seus juízos
São elas onze: a ira, a amizade ou amor, o ódio, o temor, a confiança, a vergonha, a benevolência, a piedade, a indignação, a inveja e a emulação.
Com base neste estudo, Padre António Vieira, in “Sermões”, pág. 342-343, produziu o seguinte texto, como os efeitos das paixões nos juízos dos homens:
“As paixões do coração humano como as divide e enumera Aristóteles, são onze, mas todas se reduzem a duas capitais. Amor e ódio.
Estes dois aspetos cegos são dois polos em que se resolve o mundo, por isso tão mal governado.
Eles são os que pesam os merecimentos; eles os que qualificam as ações; eles os que avaliam as prendas; eles os que repartem as fortunas.
Eles são os que enfeitam, ou descompõem, eles os que fazem e aniquilam; eles os que pintam ou despintam os objetos, dando e tirando a seu arbítrio a cor, a figura, a medida, e ainda mesmo o ser, e substância, sem outra distinção, ou juízo, que aborrecer ou amar.
Se os olhos veem com amor, o corvo é branco, se com ódio, o cisne é negro; se com amor, o demónio é formoso; se com ódio o anjo é feio; se com amor o pigmeu (anão) é gigante; se com ódio, o gigante é pigmeu; se com amor, o que não é, tem de ser; se com ódio o que tem que ser, e é bem que seja, não é, nem será jamais.
Por isso, se veem com perpétuo clamor da justiça, os indignos levantados, e as dignidades abatidas, os talentos ociosos, e as incapacidades com mando, a ignorância graduada e a ciência sem honra, a fraqueza com o batão, e o valor posto a um canto; o vício sobre os altares, e a virtude sem culto; os milagres acusados, e os milagrosos réus.
Pode haver maior violência da razão!
Pode haver maior escândalo da natureza!
Pode haver maior perdição da república!
Pois tudo isto é o que faz, e desfaz, a paixão dos olhos humanos; cegos quando se fecham, e cegos quando se abrem; cegos quando amam, e cegos quando aborrecem; cegos quando aprovam, e cegos quando condenam; cegos quando não veem, e quando veem muito mais cegos.
Virgílio A. Ferreira
São elas onze: a ira, a amizade ou amor, o ódio, o temor, a confiança, a vergonha, a benevolência, a piedade, a indignação, a inveja e a emulação.
Com base neste estudo, Padre António Vieira, in “Sermões”, pág. 342-343, produziu o seguinte texto, como os efeitos das paixões nos juízos dos homens:
“As paixões do coração humano como as divide e enumera Aristóteles, são onze, mas todas se reduzem a duas capitais. Amor e ódio.
Estes dois aspetos cegos são dois polos em que se resolve o mundo, por isso tão mal governado.
Eles são os que pesam os merecimentos; eles os que qualificam as ações; eles os que avaliam as prendas; eles os que repartem as fortunas.
Eles são os que enfeitam, ou descompõem, eles os que fazem e aniquilam; eles os que pintam ou despintam os objetos, dando e tirando a seu arbítrio a cor, a figura, a medida, e ainda mesmo o ser, e substância, sem outra distinção, ou juízo, que aborrecer ou amar.
Se os olhos veem com amor, o corvo é branco, se com ódio, o cisne é negro; se com amor, o demónio é formoso; se com ódio o anjo é feio; se com amor o pigmeu (anão) é gigante; se com ódio, o gigante é pigmeu; se com amor, o que não é, tem de ser; se com ódio o que tem que ser, e é bem que seja, não é, nem será jamais.
Por isso, se veem com perpétuo clamor da justiça, os indignos levantados, e as dignidades abatidas, os talentos ociosos, e as incapacidades com mando, a ignorância graduada e a ciência sem honra, a fraqueza com o batão, e o valor posto a um canto; o vício sobre os altares, e a virtude sem culto; os milagres acusados, e os milagrosos réus.
Pode haver maior violência da razão!
Pode haver maior escândalo da natureza!
Pode haver maior perdição da república!
Pois tudo isto é o que faz, e desfaz, a paixão dos olhos humanos; cegos quando se fecham, e cegos quando se abrem; cegos quando amam, e cegos quando aborrecem; cegos quando aprovam, e cegos quando condenam; cegos quando não veem, e quando veem muito mais cegos.
Virgílio A. Ferreira